quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sala de Exposições






Passear por uma exposição de artes visuais, olhar e olhar e caminhar, ver coisas diferentes, um passo amais e um novo complexo de cores, formas e significados nos atinge, inspira, remexe, reflete, remete a lembranças, desejos, sensações, inconsciente; por um segundo aquela obra nos toma os olhos, envolve os pensamentos, acolhe a alma e se faz nossa realidade, mesmo que honírica, mas nos abraça como um universo naquele instante; e só depois nos preocupamos em indagar, ao outro ou a si mesmo: "Mas como o artista conseguiu, fez, retratou, expressou, desenhou, coloriu... Ah, não importa, não me interessa se é tinta óleo, se é a carvão, se foi pintado com a mão, com o pé, com a boca, o que importa é que está lindo e me emocionou!" E assim é a arte, essencial, naturalmente descomprometida com o como, o meio, o modo; pelo menos é o que deveria ser para um bom e sensível apreciador. Tal como o que se deseja ser, ver, viver e poder apreciar da humanidade: a essência, a alma, o centro, o calor; menos a forma, o material, a tinta usada, o tipo, o modelo, os adereços, as linhas, as imperfeições físicas. Marcelo Cunha, o autor do quadro, pintou-o com a boca. Muda alguma coisa ser agora portador de tal informação? Alguns frequentadores da exposição podem voltar alguns passos, olhar mais de perto e passar a dar outro sentido, outro valor à obra; outro já pode se emocionar diante do inusitado; outro ainda pode até se arrepiar e se sentir um lixo por não conseguir riscar uma linha reta no papel... muitas podem ser as reações e as opiniões. Um artista como este torna-se um herói por realizar tal proeza? Ou nos faz sentir mal por nos afrontar com tamanha genialidade? Ou nos faz apenas apreciar de forma diferente a obra de um artista diferente? Ou vem nos sugerir simplesmente que o ser humano é muito mais capaz de se adaptar e se superar do que ousamos imaginar? Talvez sua arte queira continuar sendo vista da mesma maneira, como arte; assim como o autor talvez queira ser visto igualmente por sua essência; não, não ser visto, tido e tratado IGUAL a todo mundo, porque isso a individualidade, peculiaridades e características únicas de cada pessoa nem querem pra si, já que diferentes todos somos, e as deficiências só vêm exemplificar mais claramente o fato. Quem sabe artistas como Marcelo, antes de tudo artistas, e agora aqui considerado o como, o meio, a maneira com que exercem sua arte, não venham então, por meio de um grande potencial desenvolvido, inusitado para nós, que, donos de mãos teoricamente perfeitas, nunca ousamos nos proporcionar a oportunidade de aprimorar talentos alternativos, permanecendo na mesma mesmisse estagnada na repetição, a grandeza da das potencialidades humanas, a força, a vida e a coragem natural que pulsa na essência de todo e qualquer ser humano, e que nem sempre, ou melhor, raramente é fácil ver, reconhecer, resgatar e ativar.